A Exortação Apostólica “Dilexi Te” do Papa Leão XIV: o Amor aos pobres como Essência da Mensagem Cristã e o Chamado à Superação das Superficialidades, por Vanilo Carvalho
A exortação apostólica é um dos instrumentos do magistério ordinário do Papa, caracterizando-se como uma forma de comunicação pastoral que, embora não possua caráter dogmático ou disciplinar estrito, orienta os fiéis na vivência da fé e na prática dos valores evangélicos. Trata-se, portanto, de um documento que busca incentivar, exortar e aprofundar a compreensão dos princípios cristãos à luz das necessidades do tempo presente. Diferente de encíclicas ou constituições apostólicas, as exortações têm um tom mais espiritual e formativo, servindo como ponte entre a doutrina e a vida cotidiana da Igreja.
A exortação Dilexi Te (“Eu te amei”), do Papa Leão XIV, insere-se nessa tradição de comunicações papais que reafirmam o núcleo essencial da mensagem de Cristo: o amor como fundamento da vida cristã. O título, extraído da expressão evangélica que remete ao amor pessoal e incondicional de Cristo pela humanidade, já indica o tom teológico e pastoral do documento. Leão XIV apresenta o amor não como sentimento superficial ou ideal abstrato, mas como um princípio ativo que deve orientar todas as dimensões da existência humana e social.
Na exortação, o Papa ressalta que a autêntica vivência cristã exige a superação das aparências e das formalidades religiosas destituídas de compromisso real com o Evangelho. Ele adverte contra a tentação da superficialidade espiritual, que reduz a fé a ritos e palavras, sem que haja verdadeira conversão interior. Assim, a Dilexi Te denuncia o perigo de uma religiosidade que se contenta com gestos externos e omite a caridade efetiva, sobretudo em relação aos pobres e marginalizados.
O amor aos pobres ocupa, portanto, o centro da mensagem papal. Inspirando-se nas palavras de Cristo — “tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber” (Mt 25,35) — Leão XIV afirma que o amor cristão se manifesta na solidariedade concreta e no cuidado com os que sofrem. A exortação recorda que a Igreja, enquanto comunidade do amor, não pode se distanciar das realidades humanas mais sofridas, sob pena de trair sua própria missão. O Papa enfatiza que a opção pelos pobres não é apenas um gesto de benevolência, mas expressão da própria essência do cristianismo: amar a Deus no próximo, especialmente naquele que padece.
Desse modo, a Dilexi Te propõe uma espiritualidade encarnada, capaz de unir contemplação e ação, oração e compromisso social. O amor que Cristo manifesta na cruz torna-se o paradigma de toda vida cristã — um amor que se doa, que serve, que não busca reconhecimento, mas que se expressa em obras de misericórdia. Para Leão XIV, a autenticidade da fé mede-se pela capacidade de amar sem reservas, de abrir-se ao outro e de renunciar às vaidades e superficialidades que afastam o homem de Deus.
Por fim, a exortação Dilexi Te é um apelo à interioridade e à simplicidade do Evangelho. O Papa conclama os fiéis a retornarem à fonte do amor divino, rejeitando as distrações mundanas e redescobrindo o rosto de Cristo nos pobres. Em um mundo marcado por desigualdades e por uma religiosidade muitas vezes voltada à aparência, o documento ressoa como um convite à coerência e à autenticidade cristã. Amar, segundo Leão XIV, é o caminho supremo para compreender a Deus e transformar o mundo — e somente quem ama verdadeiramente os pobres compreende, em profundidade, o coração do Evangelho.
Vanilo de Carvalho
Advogado, Professor Universitário, Presidente da Academia Brasileira de Cultura Jurídica, Especialista em Direito Constitucional, mestre em Negócios Internacionais, membro da Academia Brasileira de Hagiologia, ex-Presidente da Escola Superior de Advocacia, ex-conselheiro da Oab, ex-membro da Comissão Nacional do Exame de Ordem, membro da Comissão Nacional de Ensino Jurídico, Conselheiro da Faculdade Escola Superior de Advocacia, membro da Comissão de LGPD/OAB, Cavaleiro Magistral da Ordem de Malta , Assessor Jurídico da Ordem de Malta no Brasil, Advogado-Professor Padrão/OABce, membro do Conselho Executivo do Museu Histórico da Oab, especialista em Direito Constitucional, Procurador do Superior Tribunal Desportista, Presidente da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB, articulista político, escritor e humanista