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A Corda Sempre Quebra do Lado Mais Fraco

A Corda Sempre Quebra do Lado Mais Fraco

A guerra comercial entre os Estados Unidos e o restante do mundo, com ênfase especial na China, já foi declarada – e segue em vigor com intensidade crescente, apesar de sua deflagração ser relativamente recente. O que inicialmente poderia parecer um episódio passageiro de tensões econômicas, rapidamente evoluiu para um confronto de proporções globais, marcando uma reconfiguração drástica nas relações comerciais internacionais.

Os Estados Unidos, tradicionalmente detentores de um poderio comercial incomparável, agora enfrentam a China como seu principal adversário. No entanto, ao contrário de embates anteriores, este confronto ocorre em um cenário marcado por imprevisibilidade. A China, sob a liderança de um governo centralizado e autoritário, adota um modelo de capitalismo peculiar — um “capitalismo de Estado”, que combina planejamento estratégico rígido com abertura seletiva à lógica de mercado. É este sistema que tem impulsionado o país a protagonizar um dos maiores crescimentos econômicos da história recente, afastando, com vigor, as marcas de um passado de pobreza e humilhação.

Diante das recentes investidas dos Estados Unidos, a China sinaliza retaliações firmes e sem concessões. Longe de recuar, o país asiático se posiciona como um parceiro comercial resiliente e decidido a ampliar sua influência nas grandes mesas de negociação global. Cada passo dado por Pequim aponta para uma escalada, uma intensificação das disputas, desenhando um cenário que se aproxima da chamada “guerra total”, ao menos no campo comercial.

Neste contexto, sobram contradições. Durante a segunda metade do século XX e início do XXI, o mundo caminhava para uma progressiva liberalização econômica: houve derrubada de barreiras alfandegárias, integração de mercados e um crescimento robusto do comércio internacional. Agora, assiste-se ao movimento inverso — um retorno ao protecionismo, à imposição de tarifas e à desconfiança entre nações. A cooperação dá lugar à competição desenfreada.

E como sempre, os efeitos colaterais mais graves recairão sobre os mais frágeis. As economias vulneráveis, especialmente de países em desenvolvimento, já sofrem os impactos da instabilidade, da retração de investimentos e da volatilidade dos mercados. É incerto até que ponto essa nova guerra comercial atingirá as populações mais pobres do planeta. Mas, como a história tantas vezes demonstrou, “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”.

Neste novo tabuleiro de disputas, o que está em jogo não é apenas o controle de rotas comerciais ou a imposição de tarifas, mas a própria estrutura das relações econômicas internacionais — e, com ela, o futuro de bilhões de pessoas ao redor do mundo.

Artigo de autoria do conselheiro da ESA-CE